Pais são referência. São carinho, cuidado, afeto, atenção. Tudo movido por um dos sentimentos mais nobre que existem: o amor parental.
Pais transmitem valores. São guia e bússola em se tratando do que é certo e do que é errado. São acolhimento e refúgio, mas são também responsáveis pela transmissão de valores e limites através da educação.
No livro “Podres de Mimados”, do psiquiatra Theodore Darlymple, o assunto é abordado de maneira direta a inequívoca.
A obra “argumenta que o excesso de sentimentalismo e a busca por gratificação imediata, especialmente em relação às crianças, estão destruindo a capacidade de discernimento e de reflexão crítica.
…
O autor critica a tendência de culpar o sistema e a sociedade em vez de assumir a responsabilidade individual, a incapacidade de tolerar a frustração e a busca constante por soluções fáceis.
Dalrymple argumenta que a cultura moderna, especialmente com a influência da mídia e do mundo digital, contribui para essa infantilização e para a dificuldade em lidar com a realidade.”
Fonte: Google Gemini (AI da Google)
Tal percepção coincide com as minhas observações empíricas. Crianças, adolescentes e jovens, sobretudo da Geração Z, se acham “donos do mundo”, porque são infantilizados pelos seus pais, que acreditam cada vez mais que o amor entre pais e filhos é algo transacional. Ou seja, pais e filhos fazem trocas entre si para manter o equilíbrio e uma boa convivência familiar.
Eu me lembro bem de como eram as refeições na minha casa quando eu era criança. Eu comia o que estava na mesa e pronto. Hoje em dia, vemos crianças, adolescentes e jovens agindo de maneira tirânica com o incentivo, consciente ou inconsciente, de seus próprios pais. “Não quer comer isso? Compra o que você quiser na rua.”
E o “afeto transacional” se estende até o infinito. Pais e mães se desdobram para “comprar” o “amor” de seus filhos, quer seja fazendo todas as suas vontades (seja lá quais forem) ou mesmo através do compra direta material. “Toma esse iPhone aqui, meu filho… A gente te ama.”
Por onde andam as frustrações as quais fui submetido?
“Você é muito novo para isso.”
“É o que tem para comer.”
“Isso é assunto entre seu pai e sua mãe.”
“Já te expliquei. É assim e ponto final.”
“Não vai e pronto.”
Nem de longe apoio o uso de violência física (acho abominável), mas pais não serem capazes de dizer não para os filhos ou impor a sua autoridade quando necessário? Como assim? Afinal de contas, quem são os pais e quem são os filhos?
Obviamente, sou favorável a um diálogo amplo entre pais e filhos, mas é preciso que a autoridade dos pais seja o fiel da balança, sob pena de termos (como já temos), toda uma geração que é incapaz de ouvir um não como resposta, o que a faz incapaz de lidar com qualquer tipo de frustração. E pior: é uma geração que se acha no direito de chantagear os pais quando as suas necessidades não são atendidas, o que nos leva de volta ao conceito de “amor transacional”.
Nem de longe escrevo este texto como um teórico ou especialista no assunto, mas escrevo com a autoridade de quem é pai. E escrevo porque quero alertar outros pais sobre a questão, na certeza de que bater de cinto não resolve, mas ser omisso e condescendente também não.
Precisamos criar adultos saudáveis e aptos para os desafios da vida. Precisamos permitir que nossos filhos lidem com as consequências de seus atos e omissões, escolhas e decisões. Precisamos permitir que nossos filhos se frustrem e se acostumem a lidar com isso, sob pena de criarmos adultos inaptos para viver em sociedade e estabelecer relacionamentos saudáveis.

Excelente dica de estudo e leitura.
CurtirCurtido por 3 pessoas
Tenho certeza de que você vai gostar. 🙂
CurtirCurtido por 2 pessoas
Não sou pai, mas percebo a criação de algumas crianças próximas. Vejo que os pais têm hoje uma síndrome de serem infalíveis, e na tentativa de sê-lo, o que nunca alcançarão, pois todo ser humano é falível, e também no sentido de não deixar o filho sofrer, acabam criando filhos que fazem o que querem, que expressam seus sentimentos com toda a sinceridade, e são muito sem-educação. Depois quando cresce dá-lhe Prozac neles! (nem sei se o Prozac ainda está na moda; eu como filho mimado que fui tomo outro).
CurtirCurtido por 2 pessoas
Muito bom o seu comentário. Os pais querem ser infalíveis, e se valem de qualquer ferramenta para isso, inclusive dinheiro e permissividade. Os pais acreditam que a boa criação dos filhos se resume a ver sempre um sorriso em suas faces, quando na verdade a vida, muitas vezes, vai é nos tirar lágrimas. E quanto ao Prozac, ele ainda existe, mas os podres de mimados de hoje estão preferindo mesmo são drogas sintéticas (MDMA, fentanil, oxicodona, etc.). Isso prova que você não é mimado. 🙂
CurtirCurtido por 2 pessoas
Obrigado, Fabio por me considerar assim. Você disse uma verdade sobre o papel das drogas na fuga das ilusões criadas no próprio seio familiar. Estou acompanhando muito de perto o seu blog e gostando muito da sua escrita. E creio que de vez em quando você lê as coisas que eu rascunho também. Fico pensando nesse movimento blogueiro ainda atuante na internet, uma vez que a moda hoje é dancinha no TikTok ainda temos um grupo muito bom de pessoas que cultivam o hábito da leitura de TEXTOS mesmo – com toda a caixa alta. Parabéns pelo trabalho e obrigado pela interlocução.
CurtirCurtido por 2 pessoas
Nós somos a resistência. Ainda acredito nas páginas e nas letras. É óbvio que os novos tempos incluem canais digitais e novos formatos (e isso vale até para dentro da sala de aula), mas é preocupante a tentativa de banalizar os livros como fonte de conhecimento e acreditar cegamente em influencers, Inteligência Artificial, e por aí vai. Parabéns para nós, então.
CurtirCurtido por 2 pessoas