Posso te contar um segredo?
Eu já tive medo dela.
Medo de me perder de mim.
Eu ouvia minha mãe dizendo:
“Nada na vida pode ser tão bom.
Há algo de errado em todo esse frisson.
É só questão de tempo.”
(para eu me foder)
Mas minha mãe nunca me disse isso e nem precisava dizer.
Sem perceber (ou percebendo),
Ela sempre me fez crer
Que perder (seja lá o que for),
Era o meu insuperável destino.
E na terapia eu matei essa menino –
(morte necessária) –
E apesar de ainda ouvir a minha mãe dizer
(até mesmo quando ela não diz),
Aprendi a ficar em paz comigo.
Minha mãe já foi meu único abrigo
Diante de tramoias e perigos,
Que nunca existiram,
Que eu nunca vi acontecer.
E hoje, beijo-lhe a testa de maneira doce,
E convivo com o que ela gostaria que eu fosse
Ainda que eu saiba que este não sou eu.
