Engasgou-se com palavras:
Tanto com as que disse
Como com as que não disse.
Silenciou-se quando deveria falar,
Falou quando deveria silenciar.
Palavra é ponte
Palavra é muro
Palavra é afago
Palavra é murro.

Eu não disse para as paredes. Eu disse para você.
Eu disse de todas as formas possíveis, em atitudes e palavras, em prosa e verso. Eu disse de todas as formas que eu sabia, de todas as formas que eu sentia, de todas as formas que eu podia e conseguia dizer.
Eu era disco arranhado em 33, 45 e 78 RPMs que só tocava uma única música, e essa música era você.
Eu disse inúmeras vezes e inúmeras vezes mais eu diria, porque dizer me deixava feliz, me fazia bem.
É certo que não fui perfeito, porque sou imperfeito. Mas sempre fui íntegro, genuíno, e nada do que eu disse jamais foi invenção ou exagero. Eu disse o que o meu coração quis dizer, porque ele sempre foi soberano ao seu lado. Dele, eu era só um pau-mandado.
E hoje, eu nada mais posso dizer. Curiosamente, as paredes com as quais nunca falei são minhas testemunhas. Testemunhas mexeriqueiras, alheias às areias do tempo.
Tudo que eu tinha para dizer, eu disse. Só não disse, porque disso só soube agora, que parece não ter fim a vontade de dizer. Dizer ainda é um ato de existência.

Não fale com o coração
Para quem mal de tá ouvidos
Para quem não escuta
Para quem não tenta ou se ocupa
Em tentar entender
Em tentar sentir
Aquilo que vai muito além das palavras brutas
Até porque
Mesmo sem querer
Um dia o vocabulário do coração se acaba
E mudo
Ele se acostuma
E perde aquela necessidade:
Já não tem mais nada a dizer
E depois disso tudo
Ele se escuta
E recomeça
Lentamente
A bater.

Parece-me apropriado acreditar que o silêncio possa ser tão revelador quanto as palavras. Talvez, no silêncio, seja dito o que não se consegue dizer ou traduzir em palavras. O grande complicador, entretanto, é que o silêncio é essencialmente subjetivo e justamente por isso diz o que se quer dizer ou não.

Invade-me teu silêncio
Talvez ele me diga alguma coisa
…
…
Nada
Talvez eu esteja surdo
Talvez tu estejas muda
Não precisas me explicar
Metamorfoseio-me
Oiças-me mudo
Eu mudo
E vôo
Pro mundo.

Impressiona…
O quanto se diz em silêncio
Talvez devêssemos ficar mudos
Para todo o sempre.
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