Pode apagar a minha fotografia,
Mas eu estou dentro e entro em você
Dia após dia,
Nesta saudade que não silencia.

Pode apagar a minha fotografia,
Mas eu estou dentro e entro em você
Dia após dia,
Nesta saudade que não silencia.

Há um poema
Entre tuas pernas
Que foi escrito
Com minha língua
Há um poema
Em tua face
Que foi escrito
Com tua caligrafia
Há partes que não cabem
Há partes que não entram
Cheiros e gostos rimados
Por fora e por dentro
Nestes saraus devassos
Nossa história escrevemos
Lirismo que não se cala
Que ou grita ou está gemendo.

Não me esqueci do nosso último beijo.
Não me esqueci dos nossos beijos.
Não me esqueci de você.
Procuro-o e não o acho
Em outras bocas que sentem
Que não sei o que estou fazendo ali.
Não era a mecânica:
Era a foda no beijo
Ou o beijo que virava foda
Não sei…
Acho que ninguém sabe.
Só sei que toda vez que penso em beijo –
Nos meus sonhos eu ainda te beijo –
Na minha boca só cabe você.

Nossas taças de vinho
No frio do inverno,
Nossos corpos nus queimando
Feito mil sóis no verão.
O beijo na boca,
A prisão entre as coxas,
O ritmado ir e vir,
O descompassar do coração.
Lençóis ensopados,
Desejos e impropérios,
Lascívia escancarada,
Peças de roupa pelo chão.
A tontura repetida do gozo,
A entrega sem mistérios,
A respiração ofegante,
Nossos fluidos em ebulição.
Se foi esse o dia mais frio do inverno,
Me diga,
Como sobreviveremos ao verão?

Não é só a tua boca que sorri quando eu chego.

Repousa teus lábios nos lábios meus
E me deixa ver teu infinito.
Mostra os mares que são só teus
E as profundezas que eu agito.
Confessa os desejos que não são só meus
E admita que são infinitos.
Recebe teus mares com os mares meus:
Cala a minha boca, sente meus gritos.

Talvez seja melhor calar-te
Com um pedaço de mim
Ocupa-te
Há trabalhos a fazer
E não aceito
Mal feitos
O pagamento?
Quentes rios:
Invado-te
Conquisto-te
Domino-te
Ocupo-te.

Nunca me encalhei nos teus canais
Apesar deles serem rasos e apertados
Por demais.

Adoro ver esse sorriso
Em todos os teus lábios.

Tínhamos essa mania louca
De olhar um para o outro
Em lados opostos da mesa
E nos confundir com comida
Poderíamos até culpar o vinho
Mas tornou-se um hábito
Ver a mesa posta
As vontades expostas
E a comida quase intocada, fria
A fome?
Saciada, todavia.
