Confesso que não conhecia todas as bandas do line up. Estava indo ao show por conta do Angra e do Jeff Scott Sotto, mas por via das dúvidas, resolvi ouvir o som das outras bandas enquanto me dirigia para a cidade.
Ainda no carro, me deparei com uma música aleatória da banda Sinistra: “Quem é você”. Senti o Black Sabbath nos primeiros acordes. O Heavy Metal sem pressa. E veio a voz… Que voz! O Dio cantando em português! Mas como ouvi a música apenas uma vez só, fiquei com a sensação de que poderia ser só emoção pré show.
Não sei se todo mundo já sentiu o que é ir para um festival de Heavy Metal. A ansiedade é forte. Juntar o conhecido com o desconhecido musicalmente falando é uma experiência única, que vale muito a pena. De uma forma ou de outra, a sensação de enriquecimento musical é sempre fascinante. É real e deixa consequências importantes/relevantes.
Quando cheguei a Friburgo, deixei as coisas na casa da minha namorada (ela é de Friburgo) e parti para o festival sozinho (ela não curte metal, o que é 100% compreensível). Sabia que alguns amigos iriam, amigos lá de Friburgo mesmo, e tinha certeza de que seria o máximo. Fui nessa vibe.
Os amigos chegaram, tomei o meu gin (o barman estava inspiradíssimo), e quando me dei conta, começou o show da Sinistra.
Para minha mais absoluta surpresa, bem ao pé do meu ouvido estavam o Black Sabbath e Dio na sua versão brasileira mais perfeita possível (os músicos da banda eram e são sensacionais – mais detalhes aqui).
E aí, veio o momento Jung. A banda tocou “Quem é você” e eu disse para os meus amigos: “Dio está aqui. É o Dio!” E dois ou três segundos depois de eu dizer isso, o vocalista da banda chamou “Children Of The Sea”. Sim! Black Sabbath com Dio. Os caras mandaram essa! Sincronicidade pura!
Chorei feito uma criança. Ninguém me entendia, é claro. Agradeci a Deus por estar ali naquele momento. Foi muito emocionante “rever” o Dio e, mais ainda, sentir o pedigree nacional naquela toada. Incrível! Inesquecível! Para sempre!
Enfim… A banda Sinistra é um achado. A música que mencionei é Espírita (é só prestar atenção na letra), fato que achei minimamente curioso. E a Sinistra ganhou um novo fã. 😊
P.S.: Os shows do Angra e do Jeff Scott Sotto também foram excelentes!
P.S.: O festival foi no dia 01/04/2023 e ano que vem tem mais!
– Faz algumas sessões que você aparece apenas para me contar as coisas que te acontecem. Coisas com as quais voce agora sabe como lidar. Você sabe como agir e reagir diante delas. Eu apenas te ouço. Tem sido assim.
– E o que isso significa?
– Significa que os 5, talvez 6 anos que você investiu na sua terapia chegaram ao fim. Você está pronto.
– Como assim? Falo com você toda a semana! Como é que eu…
– O nosso trabalho está concluído. Chegamos ao fim. Parabéns, Fabio! Agora é com você.
Terminei a sessão e passei alguns minutos olhando para o nada. Uma única lágrima desceu do meu rosto. Somente uma. Eu realmente estava e me sentia pronto.
Não sabia exatamente o que era um tratamento psicológico. Entrei no processo porque as frases de Freud, Jung e Lacan sempre me chamaram a atenção. Como resistir a elas?
Foi o melhor e maior investimento que já fiz em mim, na minha vida. Cheguei a ficar desempregado, mas não desisti da terapia nem por um segundo. Era algo que eu sabia que precisava, e hoje tive a notícia que um dia eu esperava ter: minha alta psicológica ou algo assim.
Olhei para o mundo e pensei no que tinha mudado. Ao olhar, percebi que via as mesmas coisas, mas que meu entendimento e minha percepção sobre elas tinha mudado ou evoluído muito.
Se eu mudei? Provavelmente, mas muito mais do que isso, eu me conheci. Minhas qualidades, meus defeitos, meus limites, minhas missões neste mundo.
Hoje, estou melhor comigo mesmo. Me aceito. Foco no que tenho que melhorar (muitas coisas). Me realizo nas partes do meu eu que já estão avançadas (outras muitas coisas). Percebo e sinto de maneira transparente as pessoas e as coisas ao meu redor. Me sinto mais seguro, mais confiante. Me sinto mais dono de mim.
09 de Janeiro de 2023 – O dia que eu renasci. Obrigado a todos e tudo que sabendo ou não conspiraram por este momento. Obrigado a minha psicóloga, pois sem ela eu não teria conseguido. Obrigado a mim mesmo por ter acreditado em mim. E, acima de tudo, obrigado a Deus por ter me colocado no caminho certo.
Estou muito, muito feliz. Que o mundo se acostume a meu eu assim. É assim que vai ser de agora em diante.
P.S.: Nada me impede de fazer umas sessões de reforço quando eu sentir que preciso. Agora, é só uma questão de escolha. 🙂
Lucifer é uma série que fala sobre Lucifer (óbvio), mas como se ele fosse um humano vivendo entre nós. Não se enganem: ele continua sendo Lucifer, com todos os seus poderes, só que vivendo situações e sentimentos que humanos normais experimentam, tais como amor, culpa, raiva, saudade, etc. A cereja do bola é que a série foca muito em psicoterapia, ou seja, em como lidar com essas situações e sentimentos, o que a faz ficar ainda mais interessante. Inclusive, uma das principais personagens da série é uma psicóloga.
DISCLAIMER: Eu vou soltar alguns spoilers por aqui. Esteja ciente disso.
Eu gostei muito da série e gostei especialmente do final. Nela, Lucifer não é descrito como o mal em si, mas sim como aquele que recebeu um trabalho de Deus (sim, até Deus aparece na série), que é o de punir quem fez o mal. Qual a punição para as pessoas que vão parar no inferno? Viver eternamente o que é descrito como um “hell loop”, ou seja, a danação eterna de reviver e sentir o que fez a pessoa ir parar no inferno. O que as faz permanecer no dito “hell loop”? Culpa. Na prática, é como se não fosse Lucifer quem mantivesse as pessoas no inferno. Elas ficam por lá por conta da sua própria culpa e da sua própria incapacidade de lidar com o que fizeram. É um conceito interessante e é justamente aí que entra a questão da psicoterapia. Lucifer, inclusive, faz terapia!
Ao final da série, Lucifer transforma o inferno em um grande consultório psicoterápico, cujo objetivo é livrar as pessoas das suas culpas e fazê-las assumir as responsabilidades diante de seus próprios erros, tornando-as melhores. E assim procedendo, a série dá a entender que qualquer um poderia ir para o paraíso. Portanto, na série Lucifer se transforma em um anjo (bem… anjo ele já era – anjo caído) cuja missão é não mais apenas punir, mas resgatar todos os que estiverem verdadeiramente dispostos a ir para o paraíso.
Como eu disse, realmente é um conceito muito interessante, mas a vida me mostrou que há gente que nunca vai assumir a responsabilidade por seus atos. São sempre vítimas. Vítimas da inveja dos amigos, da incompreensão do companheiro, dos pais, dos chefes, dos filhos… Enfim, vítimas profissionais que acreditam que o universo inteiro conspira contra elas. Acreditam que são criaturas absolutamente perfeitas e divinais, grandiosas, merecedoras de todos os direitos e livres de todas as obrigações, e que eventualmente agem de forma maldosa ou violenta apenas com o objetivo de se protegerem do verdadeiro mal que a elas sempre tentam infligir. A Psicologia e a Psiquiatria conhecem bem de perto esses casos e o prognóstico não costuma ser bom.
Uma pessoa com uma mente assim não pensa ou sente como uma pessoa normal. É capaz de fazer terapia e criar uma persona* para ser analisada. Enfim… É uma pessoa capaz até de enganar os profissionais da área menos experientes ou que não tenham lidado de perto com manipuladores e mentirosos compulsivos. Vivem e são guiadas por um falso self**.
Obviamente, este texto não é uma resenha. A série tem seus altos e baixos (muito mais altos do que baixos). Eu gostei muito, muito mesmo. A solução proposta pela série, entretanto, na minha opinião, ainda vai deixar o inferno cheio de gente. Apesar de para Deus nada ser impossível, para mudar, antes de mais nada é preciso que a própria pessoa reconheça que há algo de errado, sendo que há pessoas que simplesmente não se enxergam.
P.S.: Tom Ellis é absolutamente brilhante no papel de Lucifer. Só a performance dele já vale assistir à série.
* Na psicologia analítica de Jung, (persona) é “uma espécie de máscara projetada, por um lado, para fazer uma impressão definitiva sobre os outros, e por outro, dissimular a verdadeira natureza do indivíduo”, a face social que o indivíduo apresenta ao mundo. – Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Persona_(psicologia)
** Verdadeiro self (também conhecido como self real, self autêntico , self original e vulnerável self ) e falso self (também conhecido como, self idealizado, self superficial e pseudo self ) são conceitos psicológicos, originalmente introduzidos na psicanálise em 1960 por Donald Winnicott . Winnicott usou o verdadeiro self para descrever um senso de si baseado na experiência espontânea autêntica e na sensação de estar vivo, tendo um self real. O falso self, por outro lado, Winnicott via como uma fachada defensiva, que, em casos extremos, poderia deixar seus detentores sem espontaneidade e se sentindo mortos e vazios, atrás de uma mera aparência de ser real. – Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Verdadeiro_self_e_falso_self
Depois de ler alguns (vários!!!) livros de autoajuda, cheguei a uma conclusão decepcionante: muito se fala em melhorar os defeitos, e pouco se fala em fortalecer ou mesmo identificar as qualidades de um determinado indivíduo.
Vamos começar pelo básico: ninguém é perfeito. Logo, todos possuem defeitos e qualidades. Não há um único ser humano que só tenha defeitos ou que só tenha qualidades. O seres humanos são completamente híbridos. Defeitos e qualidades em maior ou em menor grau representam o indivíduo e o fazem único.
Dito isso, desde quando ser do jeito A ou B passou a ser norma? Como dizer se a introversão ou a extroversão, que fazem parte do temperamento básico, são defeitos ou qualidades? Vai depender do contexto. Vai depender de quem observa. Não há certo ou errado. Há somente o que se é.
Os livros de autoajuda parecem mostrar que há uma espécie de “receita de bolo” ou arquétipo que torna uma pessoa mais ou menos sociável, mais ou menos atraente, mais ou menos correta, e por aí vai. Não é meu objetivo travar uma batalha com Jung, mas fato é que arquétipos são limitadores e geram a sensação de inadequação que muitos vem sentindo durante esse período turbulento da história da humanidade.
Dito isso, resta uma pergunta importante: quais são os seus defeitos e quais são as suas qualidades? O que te faz único? Em um relacionamento afetivo, por exemplo, será uma determinada característica de sua personalidade algo bom ou ruim? Obviamente, não há resposta correta e também não há “receita de bolo” que resolva isso.
E sabendo de seus defeitos e qualidades, por que parece que o foco, em geral, é apenas nos seus defeitos? Por que você se importa tanto com os defeitos dos outros? Não seria mais sadio e produtivo estimular o que as pessoas tem de melhor e, em momento oportuno, conversar sobre o que pode ser melhorado? Infelizmente, foco nos defeitos parece ser uma espécie de obsessão, tanto para quem tem os defeitos como para quem aponta os defeitos. Juízes não togados de porra nenhuma, por assim dizer.
E por que é importante, então, saber quais são os seus defeitos e qualidades? Porque partindo do pressuposto que não há “receita de bolo”, o que pode ser considerado um defeito por uns, pode ser considerado uma qualidade por outros. E se você não tiver a consciência de seus defeitos e qualidades, estará eternamente nas mãos de quem tem observa. Estará a mercê de julgamentos de pessoas que pouco ou nada conhecem sobre você ou sua vida, mas que se apressarão em defini-lo ainda que não tenham embasamento para isso.
Conheça-se. Reconheça-se. Não deixe que ninguém o culpe pelo que não é culpa sua ou que tente transformar em defeito o que é qualidade (e vice-versa). Se a beleza está nos olhos de quem vê, esteja sempre a procura de quem vê as suas qualidades com bons olhos, e que compreenda e ajude com seus defeitos.
Em tempo: o mundo seria um porre de todas as pessoas fossem iguais. Ainda bem que não há “receitas de bolo”. Que o “gado” fique com os arquétipos!