Avatar de Desconhecido

Bem curado

Fui comprar um queijo bem curado,

E o vendedor me disse: “Foram 6 anos.”

Retruquei assustado: “De cura?”

E ele me disse: “Não, de terapia”.

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Testamento

Para ti, minha filha,

Deixo de herança todas as minhas mazelas.

Que tua alma se consuma feito a minha,

No caldeirão de malfeitos no qual fui marinada e ungida,

Posto que sou sagrada.

Mas que tu entendas, minha filha:

Até os meus malfeitos são perfeitos –

Milimetricamente perfeitos –

Lustrosos e rebuscados ao ponto de mentes menos sagazes defenderem.

Sou teu arquétipo e não admito que diferente de mim sejas.

Sou tua juíza e teu algoz –

Cassei tua voz! –

E projeto em ti tudo que sou,

Que nego,

Que invejo –

Sou pura inveja! –

Que odeio,

Que gostaria de ter sido,

Que nunca fui.

Agradeças, minha filha.

E quando pensares em ser diferente,

Bem no fundo da tua mente,

Ouvirás a minhas voz e não te atentarás

Que sou dona do teu inconsciente.

Esta é para ti a minha fiel herança:

Tornei-te esta insegura criança,

Que jamais será capaz de perceber,

Até mesmo quando adulta,

Que és apenas mais uma de minhas infinitas –

E ainda assim narcisicamente perfeitas –

Lambanças.

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Crescer

Por pura vaidade, não reconhece a perda.

Luta batalhas que não fazem mais sentido.

Chama a atenção para as suas causas irrelevantes –

Todas elas –

Irrelevantes para o mundo; o mundo que não é só dele.

Distorce, trama, difama, manipula,

Pois não tem a coragem de se olhar no espelho.

E ali, bem no meio da poça de sangue

Que se formou dos cortes que fez a si mesmo,

Prosta-se feito criança que espera a saída do escola.

Quer rever seu pai, sua mãe.

Quer que eles lhe digam que vai ficar tudo bem.

Quer se rever criança e poder ser criança.

Mas isso não é mais possível: a criança precisa morrer.

O bebê que ainda é precisa desfraldar.

Precisa sepultar partes suas em definitivo para ser.

Precisa viver o luto que é crescer.

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Mente que nem sente

Psicóticos e esquizofrênicos jamais mentem,

Pois para eles seus delírios e alucinações são 100% verdadeiros.

Fora isso, quem “mente que nem sente”

Sabe muito bem que está mentindo.

E você aí sofrendo, se martirizando,

Por gente que não tem honra, caráter.

Gente que nem gente é.

Ninguém muda ninguém – entenda!

Por isso, aceite as pessoas como elas se mostram

E a dor irá embora com o tempo.

A verdade liberta,

A verdade cura,

A verdade é de Deus.

Diga não aos senhores das trevas!

Acima de tudo, são grandes ladrões do seu tempo

(que é finito).


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Deixei a vida me levar

Quando eu era mais novo, por ser muito racional e por todo um histórico familiar que prefiro deixar de fora nesse momento, eu acreditava que a única maneira de ser feliz era controlando tudo. Obviamente, eu não tinha consciência disso, e usava termos alternativos para definir o tal controle. No caso de namoradas, ciúmes. No caso do colégio, perfeccionismo (notas sempre muito altas). E por aí vai…

Acontece que é simplesmente impossível controlar tudo. Não dá! Desde quando é saudável marcar em cima da namorada 24 horas por dia? Desde quando é saudável estudar não pela nota máxima, mas apenas para ter a nota máxima e usá-la como ferramenta de manipulação? “Sabe como é, coordenador… Sou o melhor aluno.”

Na prática, como não é possível controlar tudo, acabamos por criar mecanismos de manipulação dos mais variados tipos. Lidamos com os outros e ao mesmo tempo tentamos anulá-los, de forma que seja inequívoco o poder que exercemos sobre estes. O objetivo é ter e estar SEMPRE no controle.

Bem… Como vocês podem imaginar, a vida acaba ensinando que isso simplesmente não funciona. Pode funcionar no curto prazo, mas com as pessoas ficando mais maduras e espertas, o mundo da manipulação acaba ruindo. Só que você (eu, no caso) é o último a se dar conta disso, e acaba investindo de forma mais pesada ainda em maneiras de controlar o que por natureza é incontrolável: a vida.

O resultado disso? Cansaço, ansiedade, depressão… Uma sensação de impotência incrível que, por bem ou por mal, acaba tirando você (eu) da ilusão de que você é o “Master of Puppets” (sim, referência ao Metallica) e que todos são suas marionetes, cuja única finalidade existencial é satisfazer as suas (minhas) vontades. Cai por terra a ilusão de que outros são objetos secundários, passivos, sem sentimentos, etc.

E aí, dependendo das suas crenças, você acaba procurando caminhos para tentar resolver isso. Livros de autoajuda, psicoterapia, tratamento psiquiátrico, etc. Considero todos estes meios válidos, e acredito que todos podem contribuir de alguma forma. Entretanto, o formalismo da Psicanálise e da Psiquiatria levam vantagem sobre os demais, creio eu. Você não quer cair nas mãos de alguém que escreva um livro dizendo que a única saída para os seus problems é o suicídio, não é mesmo?

E depois de um tempo, você percebe que durante uma vida inteira levou sobre os ombros um peso gigantesco que não precisava levar. A tentativa vã de controle sobre tudo e todos requeria um imenso esforço, ainda que parecesse algo natural, parte da sua vida. E percebe que o que precisa acontecer, de fato acontece. A mulher que tem que ficar na sua vida, fica. Os amigos, idem. Tudo! As tentativas de controle são sumariamente ignoradas pela vida, pelo universo, e apesar do medo que isso possa gerar, não dá para negar as emoções atreladas a essa imprevisibilidade.

A vida como eu a conhecia mudou depois que me dei conta disso. Sofri e sofro quando tenho que sofrer. Sorri e sorrio quando tenho que sorrir. Eu vivo. Eu não controlo. Eu mato no peito o que tiver que vir. E com essa simples mudança, percebi que a vida tinha muito mais para me dar do que eu achava que tinha. É a famosa Lei do Retorno: eu deixo a vida me levar, e a vida me leva (Zeca Pagodinho que o diga). Onde vou parar? Não faço a menor idéia! Entretanto, depois de tomar tanta porrada da vida, descobri que essa é a ÚNICA maneira de viver. Se a vida é infinita em suas possibilidades, é para isso que estou aqui.

Que o universo e a vida conspirem em nosso favor!

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