Eu só te disse adeus porque foi isso que você me pediu. De resto, estou no soro para repor as lágrimas do que eu nunca quis.

Eu só te disse adeus porque foi isso que você me pediu. De resto, estou no soro para repor as lágrimas do que eu nunca quis.

Se não sentires vontade de falar comigo quando Morfeu te devolve ao mundo ou mesmo quando ele se prepara para novamente receber-te, vai-te embora.
Se as músicas que ouvimos tantas e tantas vezes juntos não te remetem aos inúmeros pequenos e grandes momentos que vivemos juntos, vai-te embora.
Se a calor do sol que esquenta a tua pele não fizer com que te lembres de todas as loucuras que já vivemos na cama (e em outros lugares também), vai-te embora.
Se os aromas e gostos que tanto nos diziam não forem capazes de fazer com sintas frio na barriga ou arrepios na pele, vai-te embora.
Se eu não estiver na lista daqueles que surgem na tua mente quando estás com um problema ou simplesmente porque precisas desabafar, vai-te embora.
Talvez eu implore para que fiques. Vai me doer, vai me fazer sangrar, mas insisto: vai-te embora.
Porque há muito mais no mundo esperando por mim. Eu sei que há, pois já passei por isso antes. Talvez passe por isso novamente. Eu não sei. Só vai-te embora, porque é chegada a minha hora e a nossa hora morreu de inanição.
Mas acima de tudo, vai-te embora, porque não preciso da tua pena. Não preciso da tua misericórdia. Não preciso da tua caridade, porque sei que ainda que eu caia, jamais ficarei no chão. A verdade não é capaz de me matar. Nunca será.
E se assim for, vai-te embora, porque a tua presença impede o milagre do porvir e de tudo que preciso para viver e me sentir vivo.
Eu quero tudo e quero muito. E quero agora, porque eu vivo e sou o agora.
E agora, vai-te embora. Sem demora. Há pressa diante do que a vida ainda tem para mim.

Os ritos de passagem são necessários.
As lágrimas, o cansaço,
A tristeza, a exaustão,
A dor, a solidão…
Sentir um pouco de tudo vale.
Mas se são ritos de passagem,
É neles que se iniciam novas viagens.
Então, aproveite a paisagem:
É estrada sem retorno
Para longe de falecidas miragens.

Não lembro
Não digo
Não divido
Não compartilho
Não planejo
Nada faço
Para que te sintas comigo
E ainda assim
Na ilusão de que tenho-te para sempre
Vivo essa vida doente
De ser tão independente
E de fato não estar bem sequer comigo
Não orbitas ao meu derredor
E sim, queres mais de nós
E eu sigo impassível
Querendo que seja inesquecível
O que faço de tudo para tornar perecível
A culpa não é tua, meu amor
Minha alma é muito sofrida
Minha vida muito dorida
E eu aquele sempre debochado sorriso de vida:
Eu não mais te amo.

Se tu leres o que escrevo,
Saberás que é para ti
Este polido e fiel recado,
Notório, mas nunca por mim revelado,
Escrito com o puro sangue
Que jorra de minha cruz sem peso.
Que se diga, portanto, toda verdade,
Este jugo ao qual me submeto,
Esta poesia que canto ardentemente,
No centro de qualquer esquecido coreto,
Faz de meu corpo sacro púlpito,
De onde todos meus pecados confesso.
E se com lágrimas profanas,
Minha dor eu manifesto,
Reservo-me o direito de querer,
Muito mais do que te quero,
Que todos os meus desvairados devaneios,
Por ti e em ti se encerrem.
Não te direi adeus jamais,
Um louco não carece de loucura,
Simplesmente peço que te vás,
E com tua empáfia procure algures,
Outro coração que possas empalar,
E que tua redenção, não obstante, procures.

Deixo-te como herança
O meu sorriso
Ei-lo como na chegada
Este da despedida
O coração?
Não te preocupes
Apesar de não estar bem
Já há disgnóstico:
Ausência total de toda sorte
Também conhecida como
Morte.

Dispo-me de ti
Casualmente
Sem perceber
Eras a minha melhor roupa
Roupa de festa
De gala
Roupa que nunca usei
Roupa que sempre vesti
Eras única
Fostes feita sob medida
Ficavas bem comigo
Tendo eu ou não barriga
Eras o refino do meu corpo torto
Parte do que havia de melhor de mim
O rei está nu! – disseram alguns –
“Não, nunca fui rei
Não tenho reino
Nunca terei!”
Poucos perceberam
Mas ao despir-me
Desapareci.
