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Incêndio vivo

A saudade não respeita nada e nem ninguém.

Não respeita momento, lugar, tempo, distância.

A saudade é implacável.

Transforma um vinho na geladeira em uma noite de amor sem fim,

Transforma uma escova de dentes deixada para trás em uma série no Netflix ainda por terminar,

Transforma o estar sentado em um antigo restaurante na materialização de presença física, feito quem espera o outro voltar do banheiro,

Transforma uma praia em uma sessão de fotos com voz, cheiro, gosto, toques, cabelos, sorrisos, gemidos, planos, anos, vidas, filhos, viagem, carro, unhas, aliança, aeroporto, rodoviária, almoço de domingo, café, mel, mamão, salada de frutas, ovos mexidos, pão.

A saudade não é o amor que fica.

É muitas vezes a vontade de não ter conhecido, de não ter vivido, de não amar como nunca se amou na vida, como ainda desesperadamente se ama.

A saudade é a tortura e a alucinação de quem ama e repousa em uma cama que não deixa dormir.

É o chamado incessante e silencioso de quem deixa o corpo e a alma em chamas.

Eu sou um incêndio vivo.

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Sismologia

Sinto o teu gotejar no meu rosto,

E logo sorvo da tua cadência,

Afogando-me em teu ritmo,

Que se alterna do piano ao fortissimo,

Fazendo verter teus pensamentos.

.

Minha boca conversa com teus lábios,

E na busca do que tens por dentro,

Falo línguas ainda não criadas,

Provocando a origem dos teus tremores:

Teu entumecido epicentro.

.

E para que tudo bem se acabe,

Tua boca engole meus argumentos,

A verborragia escorre em teu paladar,

Não paro de falar,

És um tormento!

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Eriçada

Te lembro nua em nossa cama,

Enquanto minha fala jocosa implicava:

“Estás com frio? Estás eriçada!”

A mordida em teus próprios lábios me respondeu sem palavras,

Que eras e querias ferro em brasa,

E que de frio em ti não havia ou cabia absolutamente nada.

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Lambanças

Premeditei este amor

Acreditei desde criança

Sempre foi meu

E eu já sentia saudades

Antes mesmo de haver lembranças.

E hoje, meu amor

Me lembrei que ainda sou criança

Brincando nos parques teus

Onde tu e eu fazemos lambanças.

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Tudo é ponte

Teu livro me espreita da cabeceira, enquanto engulo um farto gole de cerveja.

Comemoro as tuas andanças, as tuas idas e vindas, partidas e chegadas. Você em movimento. Eu em movimento a você.

Os lençóis e a cabeceira ainda estão marcados pelo nosso amor. Testemunhas de gozos incansáveis, de confissões doridas. Coisas inesquecíveis. Coisas feitas e ainda por fazer.

Vejo uma calcinha. O cheiro de menta que emana do aromatizador ecoa pelo quarto e abafa uma única lágrima que desce do meu rosto com fúria no maior estilo “Que porra é essa? Cadê você?”

Saudade. Faz menos de uma hora que você se foi. Foi o tempo de eu dirigir da rodoviária até em casa e ser tragado pela tua ausência. Nem a beleza da Baía de Guanabara vista da Ponte Rio Niterói durante a noite foi capaz de tornar o “eu sei que você já volta” mais palatável. Uma situação indigesta é uma situação indigesta. Não há música que me salve disso.

Passei por duas Operações Lei Seca. Não fui parado em nenhuma delas. Eu deveria ter sido preso por andar embriagado de você, completamente atordoado pelo cheiro do teu perfume que mora no meu carro, na minha pele, nos meus sonhos.

Arrisco um Law & Order: SVU na esperança de ver um episódio novo. Por reflexo, tento alcançar teu corpo a meu lado em uma vã tentativa de me abrigar do mundo e ganhar um coçada nas costas. Você não está aqui como estava pela manhã, como esteve até o nosso “vai com Deus”.

Te espero sabendo que te espero por opção, por amor, por tesão, por teimosia, por esperança. “Tudo é rio”, da Carla Madeira. Capítulo 8. Até você voltar, terminarei de ler o livro.

Durma bem durante a viagem.

P.S.: As panelas que ficaram sobre o fogão eu lavo pela manhã. Volta logo. Quero você.

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Explosão

Desejo que por mim fala

Que me deixa sem voz

Desejo que me consome

Que me fustiga a alma

Desejo que me faz derrubar paredes

Que me faz criar poças

Desejo que me vasculariza

Que me engrandece

Desejo que nunca me esquece

Que tem nome e dona

Vivo em estado de visceral desejo

É fato

Eu reconheço

Eu já sei

Desejo, desejo,

Beijo, vinho

Queijo, beijo

Explodi!

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Cachorra

O amor morre. Morre no silêncio. Não há sepultamento e muito menos atestado de óbito. Partes do cadáver ficam pelo chão.

O amor morre nas lonjuras. Não nas distâncias físicas mas nas psíquicas. Nas que só vivem quando há, quando existe amor.

Minha cabeça se apoia na coluna do bar ao lado de minha mesa. Finjo que saboreio a moça que me olha, enquanto gin que está na minha mesa esquenta. Finjo. Um, dois, três segundos… Minutos… Horas. Parece funcionar para a multidão que me olha em fúria: cadê aquela filha da puta que você ama?

Saco do fundo do baú aquele olhar sexy, aquele comentário picante. Ela quer me dar, mas ela não é ela. Ela não tem o gosto e o cheiro de quem eu quero que me afogue. Ela nunca teve do meu caralho a posse. No máximo um “válido por duas horas”. Nada mais.

Dou um trago no cigarro de um amigo. Lembro-me dela em minha cama. Tenho una ereção infinita. Só ela sabia fazer isso com minha pica. Gozar litros. O teto, a parede, o chão. Não vejo nada parecido com ela ao meu redor, e me lembro que ainda que eu não esteja só, dentro dela não estou.

A noite corre solta. Não saio daqui sozinho. Procuro o meu ninho. Aonde você está, cachorra? Me dá seu pescoço! Me deixa rouco de te ouvir gritar.

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Pingos nos is

O travesseiro me chama para ti,

Para teus braços,

Teus abraços,

Teu corpo –

Descompasso! –

E eu ali só com a memória do teu cheiro,

Do teu gosto em minhas mãos.

De que adianta tudo aqui,

Se sem ti eu quase não existo?

Dou risadas falhas,

Conto piadas toscas,

Mas eu mesmo quero um único rosto

Em uma multidão de 10 bilhões!

Tu me pagas… Ah! Se me pagas!

O câmbio?

O mesmo de sempre:

Trocas entre nossos ventres,

Vinhos e beijos,

Queijos,

Desejos,

Ontem, amanhã,

Hoje,

Agora,

Aqui,

Onde for.

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Zimbro

Era para ser um encontro,

Três doses de gin,

Uma boa foda,

E nada mais.

Agora,

Com ela sempre me encontro,

Minha casa cheira a zimbro,

Das fodas já perdi as contas,

E eu quero é muito,

Muito mais.

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Para eu continuar vivo

sinta-me pulsar dentro de ti

.

me engula

me esconda

me aperte

me desague

me extraia

.

devolva-me desfalecido

para meu coração –

doido varrido –

se sentir

vivo