A saudade não respeita nada e nem ninguém.
Não respeita momento, lugar, tempo, distância.
A saudade é implacável.
Transforma um vinho na geladeira em uma noite de amor sem fim,
Transforma uma escova de dentes deixada para trás em uma série no Netflix ainda por terminar,
Transforma o estar sentado em um antigo restaurante na materialização de presença física, feito quem espera o outro voltar do banheiro,
Transforma uma praia em uma sessão de fotos com voz, cheiro, gosto, toques, cabelos, sorrisos, gemidos, planos, anos, vidas, filhos, viagem, carro, unhas, aliança, aeroporto, rodoviária, almoço de domingo, café, mel, mamão, salada de frutas, ovos mexidos, pão.
A saudade não é o amor que fica.
É muitas vezes a vontade de não ter conhecido, de não ter vivido, de não amar como nunca se amou na vida, como ainda desesperadamente se ama.
A saudade é a tortura e a alucinação de quem ama e repousa em uma cama que não deixa dormir.
É o chamado incessante e silencioso de quem deixa o corpo e a alma em chamas.
Eu sou um incêndio vivo.









