Avatar de Desconhecido

Seixos

A frase nem sempre precisa ser dita.

Ela existe e insiste em se fazer presente

Nos atitudes e nos simples gestos que se mostram amiúde.

.

A frase escancara e soleniza sem pompa

O que já foi dito no toque corriqueiro,

No desejo que se esvai líquido e infinito,

Tangenciando as curvas cirúrgicas do tempo,

Rumo ao início de tudo que desde sempre deveria ter sido.

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Não é sobre dizer eu te amo:

É sobre o rio que busca o mar

E sempre, de olhos cerrados, o encontra.

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Em nosso leito,

Não resta pedra sobre pedra,

Seixo sobre seixo.

Só queixo sobre queixo,

Só eu e você.

.

E para não deixar dúvidas, mais uma vez,

Insisto na frase que nem sempre precisa ser dita –

E que de mim grita:

Eu para sempre te amo.

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Caminho em brasas

Eu sei que é segunda-feira

Mas todo o meu desejo

Toda falta que me fazes

Tudo que em mim queima e arde

Jaz vivo a meus pés:

Caminho em brasas.

.

Não há nada que possas me dizer

Nesta comum segunda-feira

Que acalme a serpente

Que trafega em minhas veias

E me traz extra sístoles:

Quero inocular-te.

.

Comigo estou em guerra

E isto é um fato

Uma parte de mim vive de lembranças

A outra vive a espera das tuas cheganças

E por um acaso é segunda-feira

Mas assim é todos os dias da semana.

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A esperar

Olho para o mar

E no horizonte,

Vejo o ir e vir das embarcações.

Não vejo a que eu espero.

Não vejo a que sempre estive a esperar.

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Olho para o mar novamente.

Desta vez com os olhos marejados.

A saudade escorre pelo meu rosto,

Pelo meu peito, até meus pés,

E me deixa de joelhos.

.

Seguro um punhado de areia

E o deixo escorrer por entre meus dedos.

Sou ampulheta viva

E a minha vida

Por mim está a passar.

.

Olho para o mar mais uma vez.

Quem sabe, talvez?

Entre motivos e porquês,

Há um coração que pulsa alto,

Esperando o amor aportar.

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Releituras

Eu nos escrevo em poesias,

Que são feito fotografias

De eternos flagrantes.

.

E quando as releio,

Delas faço desejosas súplicas,

Para que tudo reaconteça.

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Em nós

Lembro de tudo:

Do adeus mudo

Do argumento surdo

Do pedido

“Fica…”

Porque sem ti

Não tenho para onde ir

E nem para onde voltar.

.

Até hoje

Nas noites mais escuras

Onde o travesseiro é clausura

Ouço teus passos

Sinto teu peso a meu lado

Invisível corpo –

Estupenda alma –

Que pesa a meu lado

Em meu colchão.

.

Pedi a Deus

Que me desse o amor –

Não um qualquer amor –

E Deus me levou

De encontro a ti.

.

Pedi a Deus

Que me desse sentido

E eu fui ouvido

No teu “eu te amo”

No teu “adeus”

Que me deixou sem mim.

.

Mas ainda há de chegar

A primavera

E as poesias do

“Quem me dera”

Se transformarão

Em preces de gratidão

Pelo adeus que em mim

Nunca foi

Nunca partiu.

.

E tudo isso

Será para nós alicerce –

Inequívoca prece –

Do que sempre fomos

E de tudo que ainda somos

No porvir.

.

De ti

Nunca me esqueci

E sei que em ti

Há um pedaço de mim.

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Desespero

Ah! Meu amor!

Que bosta!

Eu te amo não basta.

A língua se contorce,

Faltam palavras,

Sobram desejos,

Abraços,

Beijos…

Ah! Meu amor!

Puta que pariu!

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Faz de conta que é domingo

Faz de conta que é domingo –

E eu sei que hoje é domingo –

Mas faz de conta que é daqueles domingos

Em que a presença não dava espaço para a saudade

E quando as mínimas coisas eram o máximo.

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Faz de conta que é domingo –

E eu sei que hoje é domingo –

Mas faz de conta que caminhamos na praia

Que tomamos água de coco

E que compramos o pouco que nos faltava.

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Faz de conta que é domingo –

E eu sei que hoje é domingo –

Mas faz de conta que conversamos sem pressa

A garrafa de vinho aberta

Festa em nossos corações.

.

Faz de conta que é domingo –

E eu sei que hoje é domingo –

Mas faz de conta que vimos o jogo juntos

Que tomamos café e comemos bolo

Falando inglês e explodindo em risadas abertas.

.

Faz de conta que é domingo –

E eu sei que hoje é domingo –

Assim como sei que eu te amo.

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Incêndio vivo

A saudade não respeita nada e nem ninguém.

Não respeita momento, lugar, tempo, distância.

A saudade é implacável.

Transforma um vinho na geladeira em uma noite de amor sem fim,

Transforma uma escova de dentes deixada para trás em uma série no Netflix ainda por terminar,

Transforma o estar sentado em um antigo restaurante na materialização de presença física, feito quem espera o outro voltar do banheiro,

Transforma uma praia em uma sessão de fotos com voz, cheiro, gosto, toques, cabelos, sorrisos, gemidos, planos, anos, vidas, filhos, viagem, carro, unhas, aliança, aeroporto, rodoviária, almoço de domingo, café, mel, mamão, salada de frutas, ovos mexidos, pão.

A saudade não é o amor que fica.

É muitas vezes a vontade de não ter conhecido, de não ter vivido, de não amar como nunca se amou na vida, como ainda desesperadamente se ama.

A saudade é a tortura e a alucinação de quem ama e repousa em uma cama que não deixa dormir.

É o chamado incessante e silencioso de quem deixa o corpo e a alma em chamas.

Eu sou um incêndio vivo.

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Amar é…

O desejo incontrolável de torcer pelo sucesso do outro, independentemente da distância e das saudades.

O desapego, o fim da vaidade, o aplauso do ego.

Ser lembrança e guardar na lembrança com carinho todos os detalhes, todos os momentos, todos os cheiros, todos os gostos, todos os tudos que não cabem em nenhum vocabulário.

Abandonar a raiva, abraçar a despedida como amiga, chorar cada lágrima dorida com dignidade, tal como tributo ao próprio amor.

Agradecer a Deus pelos momentos, pelas oportunidades, pelo crescimento.

Amar é, acima de tudo, aceitar o infortúnio como dádiva.

E eu te amo. E te amarei por toda a eternidade.

Meu amor de ti independe e esta é a essência do próprio amor que veio em mim morar.

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Qualquer lugar

Vou sair um pouco.

Vou até um lugar diferente.

Sei lá…

Qualquer lugar,

Onde o simples fato de eu lá estar,

Não me faça lembrar da gente.