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Crescer

Por pura vaidade, não reconhece a perda.

Luta batalhas que não fazem mais sentido.

Chama a atenção para as suas causas irrelevantes –

Todas elas –

Irrelevantes para o mundo; o mundo que não é só dele.

Distorce, trama, difama, manipula,

Pois não tem a coragem de se olhar no espelho.

E ali, bem no meio da poça de sangue

Que se formou dos cortes que fez a si mesmo,

Prosta-se feito criança que espera a saída do escola.

Quer rever seu pai, sua mãe.

Quer que eles lhe digam que vai ficar tudo bem.

Quer se rever criança e poder ser criança.

Mas isso não é mais possível: a criança precisa morrer.

O bebê que ainda é precisa desfraldar.

Precisa sepultar partes suas em definitivo para ser.

Precisa viver o luto que é crescer.

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Inocência

A culpa é dele, digo eu, juiz absoluto da verdade.

Não há possível falha minha, e se há, não posso suportá-la.

Aceitar a falha seria aceitar que não sou tudo que imagino ser, e um vazio absoluto tomaria conta de mim.

E assim sendo, precisaria me reconhecer para de fato me conhecer, para aceitar que sou protagonista da minha própria história, da minha própria vida.

Mas prefiro continuar encenando a peça onde o erro mora do lado de fora, onde eu sou injustiçado, sempre injustiçado, sempre vítima. Onde o diabo são os outros.

A minha fraqueza não se esconde de olhos mais atentos, e este é o meu maior medo: ser descoberto e me ver obrigado a confessar para mim mesmo que não sou inocente.

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Insanidade

Insanidade é acreditar
Que o outro é insano
Apenas porque
A insanidade do outro
É diferente da sua.

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Sol de Outono

Que revela belezas esquecidas

Nos vãos da vida,

Nos trilhos da eterna viagem.

De onde vejo a paisagem

Pintada por sorrisos,

Borrada por lágrimas,

Mas ainda assim paisagem:

Quadros e retratos que sinto

Com os olhos da minha alma

Completamente escancarada.

Há beleza em tudo,

E hoje sei que as maiores belezas,

Das infinitas belezas do mundo,

Delicadamente me calam.

E quando estou mudo

É que mais ainda eu falo,

Pois ouço-me abissalmente,

Nas palavras que eu calo.

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Visão turva

As lágrimas turvam nossos olhos e prejudicam a nossa visão. É preciso que elas cessem para que se possa ver e entender o que está de fato acontecendo conosco e ao nosso redor.

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Bloquear ou não?

Na minha cabeça imatura, sempre achei que bloquear alguém em redes sociais, inclusive nas redes profissionais, era um sinal de fraqueza. Soava-me como algo “não sou forte o suficiente para ver aquela pessoa que me fez mal”.

O tempo passou. Pensei e repensei o assunto. Minha visão mudou. Fato é que eu dava muita importância ao que os outros iriam pensar de mim, e pouca importância ao que eu estava sentindo, ou mesmo ao que eu iria pensar de mim mesmo.

“Sou forte o suficiente para afastar de minha vida o que me faz mal e não me importo com a opinião dos outros”.

Não é assim que a gente faz na vida real? “Nunca mais vou olhar na cara de Fulano!” Desde quando isso é sinal de fraqueza? É sinal de amor próprio. Sinal do reconhecimento do próprio valor. Sinal de vergonha na cara.

Não seja escravo das suas redes sociais ou profissionais. Livre-se de uma vez por todas do que te faz mal. E acredite: a vida vai ficar mais leve, mais agradável, e você vai se sentir muito bem consigo mesmo. E em troca, o universo irá sorrir para você como nunca! 🙂

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Detox da alma

A maioria das pessoas pensam que o perdão é algo que beneficia o agressor ou o algoz. E talvez beneficie mesmo, mas…

Como seria a sua vida sem perdoar o outro? Como ficaria o seu coração carregando uma espécie de mix de ódio e vingança? O quão pesada seria a sua vida se tivesse que carregar tudo isto para sempre?

Quando você perdoa, independentemente da sua religião, o que você está dizendo para o outro é o seguinte:

“Sabe aquela coisa suja que você quis deixar em minha vida? Sabe aquela necessidade que você tinha de me deixar para baixo? Lembra das fofocas e das mentiras? Eu não sou nada disso! Tudo isso não é meu e faço questão de devolver. Você está perdoado! Se não quiser ficar com estas coisas, jogue-as fora. Comigo é que não vão ficar.”

Perdoar é o detox da alma e contraria muitas vezes os interesses de quem fez você ficar mal. Vai que a pessoa sente prazer em ver você triste? Sim, isto existe!

Pense nisso. Não deixar o seu ofensor ou adversário dominar a sua vida ainda que à distância. E mais… Como você pode esperar que flores surjam dentro do seu coração quando ele ainda está repleto de lixo que sequer é seu?

Bônus: o perdão, ainda que não seja esta a sua intenção, pode ser encarado pelo outro como um golpe fatal de vingança. Afinal de contas, o perdão também é uma forma de dizer adeus.

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Florescer

Resolvi chamar de amor o que era pura dor
E que minhas poesias inspirava.

Talvez mais algumas palavras
Mais estrofes, mais versos
Mais telefonemas e mensagens
Mais angústia
Mais lágrimas
Mais humilhações
Mais descaso
Mais falta de respeito
Mais indignidade.

Resolvi chamar isso de amor
E hoje entendo o porquê:
Falta de amor próprio
Responsabilidade minha
E de mais ninguém.

Faltou-me coragem
Para deixar ir embora de vez
A dor que não me deixava.

E no final das contas
“Amar é quase uma dor”
Apenas quando não é amor:
É apenas dor romantizada.

O amor de fato é flor
E como toda flor
Faz valer a jornada.

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Luz e sombra

Até que ponto o teu padrão de consumo e a tua maneira de viver são realmente teus? Até que ponto tua roupa, teu carro, tuas palavras, teu olhar, tuas felicidades e tuas dores pertencem a ti? Até que ponto te reconheces quando olhas de cara limpa para um espelho?

És o que és ou és o que esperam que tu sejas? És ou estás? Quem és tu, afinal?

Pergunto porque também já não soube quem eu era, e foi um esforço tremendo achar-me em mim.

Já fui minha sombra revirada e retorcida por viver o que eu não era. Nenhuma penumbra. Nenhum atenuante. Puro breu.

Não houvesse espelhos, eu até hoje não saberia de mim. Não houvesse espelhos, até hoje eu acreditaria que eu era só ausência de luz. Sombra e nada mais.

Hoje, sou sol, mas só me tornei sol quando não me reconheci na minha sombra, e isso era algo que ninguém poderia fazer por mim.

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Todo santo dia

Também eu sei falar de coisas tristes,
De tudo de ruim que me aconteceu,
Das dores que me perseguiram inclementes,
Das saudades absurdas que me gelaram o peito,
Das vozes que, delirante, fingi que ouvi,
Das noites em claro e da sensação de quase morte,
Dos fins de tarde que pareciam o fim do mundo,
Do Apocalipse que comia e regurgitava minhas vísceras.

Ninguém por perto.

Medo diserto.

Respirar funesto.

Desenredo decerto.

Até que me dei conta
De que nunca me eximi,
Ou mesmo tentei fugir,
Das catástrofes que a mim –
E em mim –
Cabiam:
Tentar esquecer
Era, pois, a forma mais dissimulada
De me lembrar,
Todo santo dia,
De tudo que ainda me habitava
E de tudo que já me foi tudo um dia.